JUÍZO FINAL - As avaliações de Dr. Brüegel (II)

Saudações a todos os atletas e adeptos do Clube da Pedra.

Em primeiro lugar, saúdo-vos porque, para além do clube ter jogado com muito esclarecimento no campo e no pensamento dos jogadores, esta equipa provou a si própria que tem argumentos para poder atrever-se a sonhar com algo mais nesta Liga Bernardino 2008-2009.

Em segundo lugar, permitam-me apresentar as minhas mais sinceras desculpas pelo atraso desta publicação. Tal como foi expresso no meu manifesto no artigo de lançamento, o que me move nesta tarefa é tão somente apreciar a evolução dos jogadores deste distinto clube, apresentar soluções, e estimular a (auto) crítica. Por certo que este exercício de análise pode não reunir consenso no grupo. Mas não pretendo favorecer ou agradar a alguém. Nem tão pouco influenciar as escolhas do treinador ou prejudicar o rendimento do grupo. A minha formação como homem e como agente do futebol assim o determina.

Por isso devolvo a cortesia com que fui presenteado pelo Clube, as sugestões do capitão Bernardino (que acolho com muito agrado e humildade), e o interesse demonstrado pelos elementos em geral (Rogério, Garcia, Aurélio e Pacheco).

Contudo, tenho a confessar que durante os dias que antecederam e se seguiram ao último encontro disputado, cheguei a considerar a possibilidade de não dar continuidade a este projecto. Para ser franco, senti-me desmoralizado e ofendido com algumas acusações vis relativas à minha idoneidade e ao meu sentido de justiça para com os atletas. O Clube da Pedra é uma equipa, em que todos são convocados a dar o seu melhor, mesmo que nem sempre exista um acordo unânime e consensual.

Espero não mais ser alvo de ataques pessoais e falsos testemunhos sobre a boa vontade de que se reveste o meu critério de justiça. É por vós que dedico este meu tempo precioso, não contra vós. Mas como tão bem sabemos, "vozes de burro não chegam ao céu"...

Por conseguinte, caros atletas, apoiantes e dirigentes, deixo à vossa consideração o prosseguimento (ou não) desta publicação neste espaço semanal, que, espero, continue a ser do vosso agrado.

Respeitosamente

Dr Brüegel

PEDRADA NA CRISE

Grande expectativa a que envolveu este encontro, determinante para ditar a sorte das equipas participantes. Foi uma vitória importantíssima deste clube. Quiçá um ponto de viragem no seu percurso nesta Liga Bernardino.

É certo que perante o "lanterna vermelha", mas o adversário "Côxos de frango", não foi carninha mole para a sólida formação graciana, consciente da postura a adoptar perante o seu adversário, que nunca virou a cara a luta, e representou algum perigo, especialmente na primeira parte. Apesar disso, neste período, a experiência do Clube da Pedra na competição foi factor determinante para ganhar vantagem na partida. Mas o tónico dos jogadores neste encontro foi, sem dúvida, a motivação subconsciente de atingir a vitória. Estiveram à altura da responsabilidade, e da necessidade urgente em amealhar os 3 pontos, que foram muito importantes, pois é bom não esquecer que se concluiu a primeira parte da Liga, e o clube ainda está longe das posições cimeiras. Mas apesar de só contar com 6 pontos em 5 jogos, ainda falta metade do campeonato...

A defesa foi (como deve ser) o esteio para que se espalhasse pelo campo a personalidade do clube. O meio campo foi dinâmico e funcionou. O ataque foi lançado sempre a partir daqui, com o "killer-instinct" dos avançados a traduzir-se em 4 golos, quase todos eles fabricados em sequência de combinações entre todos os sectores.

O 3-1, golo de Pacheco, já na etapa complementar, foi decisivo para o Clube da Pedra explorar os espaços abertos pela movimentação mais ofensiva do conjunto galinácio (desculpem-me a associação lexical. Eles até eram bem caladinhos, face à sua táctica 3-3, que se desdobrava num 3-2-1 na tentativa de tirar partido em jogadas de futebol apoiado).

O CdP revelou estar em fase ascendente, e a sua táctica piramidal "clássica" está mais bem articulada, fruto da insistência na fidelidade deste sistema de jogo, sustentada pelo treinador Bernardino. A estratégia do mister JB caracteriza-se pelo apoio moderado à concepção de futebol total e contra-ataque. É compreensível, pois para isso se concretizar na manobra da equipa, seria necessário que os mecanismos de acção em campo estivessem já consolidados. A destacar o regresso do avançado Pacheco às boas exibições... e aos golos (e logo três!). Recuperou a sua confiança (depois de uma série de jogos em que tardava a afirmar-se), e devolveu alegria aos companheiros da equipa (aos adeptos e à direcção). O regresso à convocatória do jogador Bruno Órfão também foi muito saudado por todos os colegas, e correspondeu com muita disponibilidade e atenção na sua posição de guarda-redes.

26 de Outubro de 2008, 18.00 - Campo nº2 do Estádio da Encarnação, em Lisboa.

Temperatura - 21º. Relvado em condição normal de degradação.

Liga Bernardino - Jornada 5.

Clube da Pedra - 4 Côxos de frango - 2

Os ases da Pedra:

Bruno Órfão (6) - Atento

Bom regresso à equipa. Esteve bem nos tempos de saída ao esférico na disputa aérea com os avançados contrários, e sempre alerta quando a equipa adversária pretendia atingir as redes à sua guarda. Não está isento de culpas no primeiro golo do adversário, mas esteve seguro e transmitiu confiança à equipa no desenrolar do encontro. Bom na reposição de bola, ainda está a evoluir nesta posição.

Bifes (6) - Seguro

Menos exuberante do que ultimamente tem revelado, não foi aquele "naco sumarento" que aquecia a pedra. Menos fogoso, é certo, mas esforçado na procura em libertar os colegas do meio-campo para movimentações mais ofensivas. Importante na manutenção da estrutura desenhada pelo treinador. Melhorou a sua disponibilidade física em relação ao último encontro. Tentou explorar mais o ataque no segundo tempo, mas ainda pode melhorar mais a gestão do esforço. Esteve melhor a combinar com os centrais.

Jesus Roque (6.5) - Generoso

Não deslumbrou, mas esteve em bom nível. Contribuiu para a boa organização defensiva da equipa e garantiu a cobertura do seu flanco. Não se aventurou muito no ataque, mas ainda tentou assistir em esforço João Bernardino num cruzamento em velocidade na primeira parte, e na marcação de um pontapé de canto, já na segunda metade. Esteve no 3-1 com um lançamento lateral (um pouco arriscado) de 20m, que cruzou o campo, até ao capitão, que lhe deu o melhor destino. Pode arriscar mais no ataque para desequilibrar, embora tenha de melhorar nas recuperações de bola, especialmente quando joga fora da sua posição habitual. Ainda hesita um pouco a disputar o esférico em situações de choque, mas superiorizou-se bem na conquista de posição em recuperação, ao proteger a bola dos atacantes adversários. Trabalhou para a equipa.

João Bernardino (8) - Superior

Depois de 3 assistências entre tantos outros remates perigosíssimos ao ferro, o que há mais a dizer sobre a estrela da equipa?... O capitão orientou bem as suas tropas e combinou de forma exemplar com os elementos do meio campo e da defesa, fabricou jogadas e teve boas iniciativas individuais. Neste jogo beneficiou do bom desempenho da sua defesa para concentrar-se com mais empenho em acções atacantes, com vista a desbloquear a trama montada pelo clube animal. Fica de igual modo na retina remate fabuloso junto à barra, que obrigou o guarda-redes contrário (um dos melhores elementos da equipa adversária) a fazer uma defesa de levantar o estádio. Boas movimentações diagonais na procura do esférico e do golo. Joga mais à vontade com Zé Carlos ao seu lado. Sem dúvida, mais uma vez, o melhor elemento. Uma grande exibição!

Mário Silva (7) - Inquebrável

Este jogador está a assumir-se como um caso sério para os adversários, e uma confirmação na liderança da zona defensiva. Embora o primeiro golo da equipa adversária tenha surgido em posição frontal para a baliza, esteve sempre imparável na defesa dessa zona do terreno, comunicou com frequência com os colegas mais próximos, e jogou com calma, segurança, de cabeça levantada, e sem cometer faltas, mesmo que algumas dúvidas possam haver em relação a um lance dividido (do qual resultou a lesão infeliz de um dos melhores elementos do conjunto manco),em que revelou coragem ao meter o pé e firmeza no corte, ao tocar somente no esférico. Implacável na marcação, não voltou a conceder espaço aos adversários na sua zona de jurisdição. Foi importante no equilíbrio da equipa. Fez lembrar o saudoso Carlos Gamarra.

Pacheco (7) - Vencedor

Saltou do banco para dar profundidade ao ataque, e conseguiu... 3 golos! Hattrick! As más exibições anteriores já fazem parte do passado para este jogador, que correspondeu da melhor maneira às solicitações dos companheiros, para concretizar a ameaça em golos. Surgiu em progressão frontal por diversos momentos, e conseguiu concretizar em 3 deles. Foi na segunda parte que confirmou o investimento do Clube na sua contratação, se bem que, o golo que apontou no final da primeira - após ter aproveitado muito bem uma iniciativa individual de ataque fulgurante do central Paulo - foi importantíssimo para tranquilizar a equipa para a segunda metade do encontro. Perturbou o adversário na forma como se posicionou à entrada da grande àrea, e soube libertar-se da marcação à zona movida pela defesa adversária. Muito oportuno na finalização. Mas ainda pode e deve melhorar no capítulo do passe, domínio de bola e sprint.

Paulo (7) - Poderoso

Este jogador tem vindo a acrescentar robustez, segurança e poder de explosão à defesa. No final do primeiro tempo surpreendeu tudo e todos quando pegou na bola em corrida, e protagonizou um sprint de 50 metros em direcção à área adversária, passando por 2... 3... 4 jogadores contrários. Merecia esse golo, que Pacheco lhe dedicou, ao inaugurar a sua conta pessoal. Ganhou quase todas as bolas que lhe apareceram pela frente, mesmo quando o adversário aparecia em superioridade numérica, pelo seu lado. Muito moralizado e positivo, falou pouco e jogou muito.

Rogério (6) - Persistente

Um jogo agradável deste curioso avançado "vagabundo" do Clube, abrindo espaços na defesa contrária e arrastando os defesas para os colegas do ataque poderem facturar. Esteve bem nas movimentações ofensivas, e marcou o 2-1 na segunda parte, em penetração frontal, a corresponder a uma assistência servida a frio, na bandeja do capitão, sem hipóteses para o guardião dos "Côxos". Apesar da sua condição física ainda não ser a melhor (o que se compreende após regresso que surpreendeu o meio desportivo nacional, embora nunca tenha assumido um abandono definitivo à modalidade), insistiu na sua forma de jogar, de que a sua equipa beneficiou, embora tenha de melhorar, ainda, o capítulo do último passe, e do remate. Mas tem tempo para isso. Está no bom caminho para atingir níveis mais elevados no trabalho de equipa.

Zé Carlos (7) - Completo

Este jogador confirmou que não sabe jogar mal. Não foi aquele Zé Carlos explosivo de outras tardes, mas demonstrou personalidade, boa leitura das posições em campo, exploração do espaço, gestão dos tempos de pressão e contenção. Contribuiu muito para a exibição brilhante do seu capitão, em apoio no ataque, mas também teve preocupações defensivas. Talvez por isso a sua exibição não foi tão fulgurante ao nível individual, mas está a ganhar em maturidade e conhecimento do jogo. Joga e faz a equipa jogar. Pena que a sua presença em competição seja irregular, pois este verdadeiro dínamo será sempre uma mais-valia para o Clube.